Comedores de carne inconscientes (The walking dead - fanfic de Daryl)

Daryl estava sentado num toco de árvore fazendo uma flecha quando Nadia apareceu na frente dele segurando um prato com alguns pedaços de bolo. Ele fingiu não perceber, mas ela se sentou no chão perto dele de qualquer maneira.

– Eu fiz esse lanche para nós. É de laranja. – ela disse, pegando um pedaço e começando a comê-lo.

– Por que tu teima que nem uma mula em cuidar de mim? – ele perguntou de forma áspera.

Ela sorriu.

– Porque tu cuida de mim.

– Eu cuido de todo mundo. E tem outros caras que tomam conta de todo mundo também.

– Eles são todos casados ​​ou coisa assim. Pega um pedaço. Tá bom!

– Não to com fome.

Eles trocaram um olhar pela primeira vez. Ele notou que ela não estava feliz como de costume, principalmente depois que ela vislumbrou alguns esquilos mortos pendurados no guidom da sua moto. “Que merda é essa” – pensou ele, e desejou que nada disso estivesse acontecendo.

– Ouvi por aí que tu não come carne – ele falou com os dentes fechados.

– Ouviu certo. Nasci assim – ela respondeu sorrindo novamente.

– Também ouvi dizer que tu é do Brasil.

– Sou. Vim aqui para aprender inglês. Eu ia voltar até o final desse ano, quando a neve começar a cair...

– Não gosta de neve?

– Só não sou acostumada. No inverno passado, meu primeiro aqui, prometi a mim mesma que seguiria as aves migratórias! Acho que meus planos vão ter que mudar um pouco agora ... Sabe? Eu queria viajar. Europa, África do Sul, Índia, Austrália ... Eu tinha tudo programado. Toda a minha vida eu fiquei longe dos homens por causa disso.

Ele olhou para ela como se seus olhos dissessem: “Agora eu definitivamente não quero essa virgem maria no meu caminho”.

– Quer dizer, é difícil dar a volta ao mundo, se a gente tem alguém especial esperando por nós.

Daryl ainda parecia ser muito hostil. Se alguém estivesse realmente determinado a entrar em seu mundo, levaria uma vida inteira de avanços e retrocessos. Nadia, no entanto, não estava nem um pouco determinada. Ela pegou um pedaço de bolo.

– Bom, tinha um cachorro. Tem, não sei. Kiwi, porque ele parecia um. Ele preferia meu vizinho por razões de churrasco! Eu simplesmente não pude suportar a rejeição e fui tão longe quanto possível! 

Sua recompensa para aquela piadinha, ela pensou, foi uma segunda troca de olhares.

– Tu não tinha família?

– Ninguém próximo.

– Uns caras por aqui também não têm família.

Nadia não queria irritá-lo. Ela não queria irritar ninguém. Engoliu o último pedaço de bolo que tinha na boca e disse num tom de voz muito amável:

– Eu sei o que tu quer dizer. Só me deixa dizer uma coisa: eu me sinto feliz por estar aqui falando contigo. Queria que tu sentisse o mesmo, mas se tu não sente, é só me pedir pra ir embora. Eu vou entender.

– Vai.

– Tá.

Ela se levantou devagar, bateu o pó da bermuda e deu alguns passos para longe dele. Sua mente era muito ativa, então ela já estava pensando sobre o que poderia fazer em seguida para preencher o dia, quando ele gritou seu nome.

– O quê? – ela perguntou se virando. Ela ficou parada por alguns segundos intermináveis de Daryl, até que ele finalmente alcançou a mão para pegar a prato e foi dar a ela de uma distância segura.

– Pega. Agora não voltar mais.

“Ele se importa muito comigo” – pensou ela, mas não sorriu porque iria machucá-lo.

Ela desapareceu entre as árvores e ele começou a fazendo flechas de novo, um monte delas, muito rapidamente. Então saiu para caçar. Sua dor foi sua única companhia e ela voltou com ele, ainda pior naquela noite.

Ele tinha uma desculpa muito boa para ir para o acampamento, no entanto: um cervo que ele não seria capaz de comer não porque era muito. “Essa bruxa maldita!” – disse para si mesmo.

Ele olhou em todos os lugares, mas não conseguiu encontrá-la. Sentou-se por um tempo com os outros, mas não conseguia descansar. Era insuportável ver alguns deles preparando a carne. Talvez ele estivesse muito cansado, talvez estivesse muito fraco, mas alguns lampejos das pessoas comendo o cervo direto com os dentes fez ele querer atirar em todo mundo, depois em sua própria cabeça.

– Viram a Nadia hoje? Ela não come, mas poderia nos ajudar a preservá-la. – ele ouviu alguém perguntar e ficou bem furioso.

– Não fala bobagem! E eu não vejo ela desde o início da tarde! – Daryl respondeu muito ameaçadoramente. A menina desaparece e vocês só percebem quando precisam dela?

– Eu vi ela com uma pá e umas tábuas faz uma horas. Ela parecia estar fazendo um caixão. 

– Um caixão?! E tu não acha estranho?!

– Bom, olha em volta. Todo mundo tá morrendo... 

– Só me diz onde viu ela!

– Perto do pântano...

Daryl o estrangulou apenas em sua mente, porque tinha que correr para descobrir o que estava acontecendo. Havia apenas uma coisa possível, ele presumiu: ela cavou uma sepultura, colocou um caixão dentro, enterrou a si mesma e ninguém conseguiu ouvir o tiro por causa da terra. “Espera aí! Tu é estúpido? Como ela ia colocar a terra de volta no buraco?

No entanto, ele viu seu local de morte. A dor quase o matou, mas teve força suficiente para cavar e retirar a tampa do caixão para vê-la calmamente deitada! Ele queria abraçá-la e dar um soco nela e beijá-la e matá-la! Nadia sem pressa saiu do seu esconderijo, enquanto o escutava gritando com ela.

– Tá maluca? O que tu acha que tá fazendo? Todo mundo tá fazendo o melhor que pode pra sobreviver e tu simplesmente desiste? O que tu tava tentando fazer? Sufocar aqui dentro?

– Por favor, abaixa a voz.

– Por favor, abaixa...

– Me ouve.

Ambos estavam sentados na terra, os pés mal tocando o fundo do caixão, lado a lado.

– Um: esqueceu as coisas que eu disse ontem sobre viver em vez de sobreviver quando aquela criança ia ser abatida? Dois: só imagina! Nada pode vir desse lado por causa do pântano. Seria muito improvável me alcançar desse lado por causa dos penhascos. Além disso, tem muitas árvores por todo o lugar. E se tu tivesse prestado um pouco de atenção no meu abrigo, teria visto um duto de ar terminando naquela árvore, o que torna quase impossível saber onde eu to. Bom, pelo menos é disso que eu tava convencida. Eu tava testando a coisa. Mas eu tinha certeza que tava segura, sabe? Eu só to um pouco contrariada porque vou ter que fazer tudo de novo. Na verdade, não to nem um pouco contrariada, pois era tu...

– Minha vez.

– Tá.

– Quer saber o que tu é pra mim? Quer... Eu não me importo se tu quer! Não me importo se eu não quero falar sobre isso! Não sei que merda tu tem na voz que eu to viciado nela. Tu é como um cigarro, ou uma droga mais forte! Se te escuto, me sinto bem por um tempo. Se fico sem te escutar, tenho que te encontrar. Se fico contigo por muito tempo, é overdose. Se penso que tu tá morta, todo o resto acaba.

– Daryl...

– Não fala nada! Esquece o que eu disse! To tendo alucinações! Vamos sair daqui! Vem pro trailer comigo se quer se sentir segura o suficiente pra dormir. Posso consertar isso pra ti amanhã.

Ele se levantou muito rapidamente, agarrando o braço dela e tentando puxá-la daquele lugar, mas soltou-a antes do que devia. Ela escorregou no solo macio e caiu no abrigo, ferindo os joelhos. Ele saltou como uma flecha para o esconderijo para ajudá-la a ficar de pé de novo, mas ela não conseguia. Então, ele só a levantou para que ela pudesse sentar no solo de novo – tudo isso sem dizer uma palavra e em segundos!

– Acho que consigo andar em alguns minutos...

– Não podemos esperar.

– Tu definitivamente não vai me colocar nos ombros. Não quero preocupar ninguém. Eles fazem um monte de perguntas, sabe?

– Deixa comigo!

E ele a levou para fora da floresta nos braços.

– Daryl, talvez eu possa andar agora.

– Tu não é pesada. Continua comendo frutinhas. Quantos anos tu tem? 

– Vinte e três. Por quê?

– Só queria saber se tu não era menor. Tu é bon... bem mais jovem em aparência...

Eles entraram no acampamento e alguns dos outros se levantaram em apreensão, rapidamente perguntando o que tinha acontecido. Daryl tinha tudo arranjado:

– Recém nos casamos! – ele respondeu tão rispidamente como de costume, deixando-os espantados. Nadia riu um pouco e deixou que ele cumprisse sua missão com um silêncio confortável.

Eles entraram no trailer para descobrir que a única cama já estava sendo usada. Ou eles dividiriam um colchonete ou...

– Deita aqui. Eu vou ficar acordado de guarda. 

– Isso me faz lembrar uma música...– ela sussurrou, sentando no colchão.

– O quê?

Ela fez sinal para ele se aproximar. Ele deixou a besta na mesa e sentou ao lado dela.

– Te fiz comida, velei teu sono... Fui teu amigo, te levei comigo e me diz: pra mim o que é que ficou? – ela cantou em seus ouvidos. – É sobre alguém confuso num mundo complicado.

– Eu?

– Todos nós.

Eles olharam um para o outro por um longo tempo. Nadia estava apenas cantando em sua mente, mas Daryl estava muito confuso, porque ele tinha crescido sem “braços de mamãe para segurá-lo, sem sorrisos de papai” de jeito nenhum. “Mas por que merda eu quero que ela me abrace? Sorria pra mim e cante de novo? Ela tá me transformando numa bicha! Se eu simplesmente fosse emb...”

– Quer que eu cante outra música pra ti? Te faria dormir. Tu é tão forte, mas é bom descansar de vez em quando. Vem, estica as costas aqui.

Ele queria resistir, ele realmente queria, mas estava tão cansado, e a voz dela... Parecia comandar seus olhos até eles fecharem, e seu corpo até ele fazer exatamente o que ela disse. Depois, Nadia começou a cantar outra música, deitando ao lado dele. Ele ouviu o primeiro verso como se pudesse entendê-lo, como se soubesse que ela era cheia de esperança. Depois, ela cantou outro verso, chegando bem perto dele, a boca quase tocando seu pescoço:

– Todos os dias antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia... Sempre em frente! Não temos tempo a perder...

– Essa é sobre o quê? – ele murmurou, não querendo ser rude interrompendo-a, mas para tentar ficar acordado para sempre.

– Tempo. Tem muito tempo, mas não há tempo a perder. 

– Pode continuar se quiser...

Ela o abraçou e terminou a música. Um longo silêncio se seguiu até que ele simplesmente pegou a mão dela e perguntou:

– Me ensina a amar. 

– Claro, Daryl, claro...

E eles simplesmente dormiram assim, compartilhando calor e certeza.

Mas não durou para se tornar realidade. Quando Nadia acordou, ele não estava mais lá, e ele passou o dia inteiro fora, tentando esquecer que ela existia. Ele quase conseguiu, se não fosse por um bando invadir o acampamento no meio da noite. O fogo o trouxe de volta, e o fogo lhe permitiu ver os sobreviventes escapando em carros, deixando dois mortais para trás. Ele foi até Nadia e não viu a outra moça desaparecendo na floresta. Depois, eles correram para encontrar seus colegas de acampamento, o que não demorou muito.

Eles encontraram um, dois, três dos veículos e a moto de Daryl foi bem como uma agulha costurando todos juntos e levando aquelas almas desesperadas para um lugar mais seguro. Ele era bom assim. Ele até queria ir tentar encontrar algumas pessoas desaparecidas, mas cada um dos restantes teve histórias de morte para contar. Além disso, quando ele viu que a área não era tão segura, ajudou todo mundo a conseguir um carro melhor, a última gota de combustível que pudesse encontrar e as poucas coisas úteis que foram deixadas para pegar. Infelizmente, não o suficiente para chegar em algum lugar livre de perigo. Apenas o meio de uma estrada rodeada por nada.

Quando pararam, famintos, assustados, gelados, pesarosos, todos esses sentimentos negativos se transformaram numa discussão caótica cuja principal consequência foi a revelação de uma verdade muito inconveniente: todo mundo estava infectado.

– Exceto Nadia! – o cara disse, apontando para ela como se ela fosse culpada. No segundo seguinte, todos olhavam para ela, depois pra si próprios e para o cara que disse isso, e eles começaram a fazer perguntas para se certificar de que era real. Quantas vezes eles tinham ouvido alguma informação inegável, como “devemos amar nossos filhos”, “devemos ficar longe de armas”, “devemos construir um mundo sustentável”? Eles nunca tinham ouvido de verdade. Eles iam ouvir uma outra, no entanto. Uma muito dolorosa. Na verdade, um fato novo para a maioria deles.

– É porque ela não come carne. – Daryl resmungou. Talvez o sangue dela seja nossa esperança de encontrar uma cura.

Eles não podiam deixar de olhar para ela. Todos pensavam que ela era só uma carga inútil de 16 anos que não tinha causado nenhum problema sério – ainda. Agora, ouvir aquilo era como se Daryl os tivesse acertado com uma flecha na cabeça, e ninguém era capaz de digerir uma ideia tão forte. Então, todo mundo só mudou de assunto. Eles tinham que organizar um novo acampamento e turnos de guarda. Eles tinham que pensar sobre o que fazer de manhã. Eles tinham que sonhar com um mundo diferente. Um mundo cheio de Nadias em vez de comedores de carne inconscientes...

Quando a primeira parte estava pronta, Nadia sentou bem ao lado de Daryl, que se sentiu muito desconfortável, apesar de todos também estarem muito próximos uns dos outros, à procura de segurança. Ela aninhou a cabeça no peito dele e tremeu de frio, então ele instintivamente passou o braço em volta dela para tentar aquecê-la um pouco, sentindo-se ainda mais estranho, mas pelo menos ele achava que sabia por que estava mantendo distância dela.

– Onde estão as roupas que encontramos? – ele perguntou a alguém.

– No primeiro carro.

– Vamos lá, vamos encontrar alguma coisa pra ti lá. – disse ele, levantando-se.

Ela o seguiu imediatamente, mas ouviu uma das mulheres dizendo: “Não sei que merda tá acontecendo entre os dois”. Seu primeiro impulso foi de voltar e dizer-lhes tudo, mas então achou que seria rude, e ela ainda não tinha decidido ainda o que fazer quando Daryl disse para ela se apressar.

Ele abriu o porta-malas, depois uma mala pesada, dizendo para ela escolher algo rápido. Ela notou que ele não estava preocupado com um ataque.

– Daryl, quando tu disse que queria que eu te ensinasse a...

– Eu tava doido! Não dá pra perceber agora?!

– Agora? Agora que o quê? Agora que precisamos um do outro mais do que nunca? Porque eu preciso... 

– Tu precisa ficar longe de mim! De todos os homens!

– Tu quer dizer...

– Quero dizer que tu não tá infectada e tem que continuar assim! Tu acha que é só a carne? Eu andei pensando...

– É, to te entendendo agora. Sinto que não tenho outra opção além de te contar uma historinha.

– Conta, então.

– Olha, eu perdi minha mãe quando tinha 11 anos. Eu era uma criança doce, mas depois me tornei uma peste. Sabe? Um monstrinho totalmente birrento.

– Tu? Difícil de acreditar.

– Até que aconteceu uma coisa – na minha festa de aniversário de 13 anos. Uma coisa que me mudou completamente novo. Eu tinha um primo... Ele era um pouco mais velho que eu e eu o odiava – bom, na verdade, eu odiava todo mundo naquela época. Ele ficou para dormir e acho que decidiu se vingar de tudo que eu tinha feito para ele... me estuprando.

– O q...?

– Sabe, nós somos um povo muito sensual no Brasil. Começamos nossa vida sexual cedo e livres de culpa.

– Eu não to entend...

– Olha, embora eu estivesse a fim de fazer sexo com alguns caras, eu odiava ele, lembra? E ele me obrigou mesmo assim. Eu quase não conseguia respirar porque ele tapou minha boca, então eu desmaiei depois de sentir muita dor.

O rosto de Daryl endureceu e foi impossível continuar olhando para ela. Ela tocou o braço dele com muito carinho, o que só o fez tentar se desvencilhar.

– Veste isso antes que tu congele.

– Obrigada. Será que a gente acha uma calça?

Ele a ajudou naquela escuridão, até que encontraram a mesma calça juntos. Nadia pensou que já tinha lhe dado o tempo que precisava para estar pronto para ouvir mais e ela terminou a sua história antes de entrar no carro para trocar a bermuda.

– Voltei a ser doce por causa disso, sabe? Passei muito tempo em silêncio, pensando, então percebi que eu deveria ter previsto isso. Eu merecia.

– Como pode dizer isso?

– Todos nós merecemos o que recebemos. Eu li muitos livros, assisti a toneladas de filmes, ouvi umas bandas boas e decidi mudar. Não sei o que fiz pra merecer perder meus pais – sim, meu pai morreu no ano passado, mas talvez essa fosse a única maneira de me trazer aqui. Talvez esse seja o lugar onde nós podemos resolver as coisas em vez de sermos extintos. Enfim, eu te contei meu segredo porque não quero que tu pense que isso é como o HIV, quer dizer, acho que sexo é uma coisa natural e eu não fui infectada com ele. Quero te... ter... como alguém... muito perto de mim, agora. Mas tu não precisa ter pressa e pode te sentir livre pra me dizer que não me quer.

– Tu fala comigo como se eu fosse uma menininha! Eu não sou um idiota! Eu disse que a gente se casou, não disse?! E não tem como eu te infectar! Tu disse que me quer, não disse?! Tu acha que eu sou uma bicha?!

Apesar de toda aquela verborragia, ele não era capaz de fazer nada além de andar pra lá e pra cá! Ela esperava que ele fizesse algo quando o irritou de propósito, só para ver se a raiva era capaz de motivá-lo, já que o amor não era.

“Acho que tu deve te livrar dos preconceitos”, foi o pensamento dela enquanto ele finalmente conseguiu usar sua “masculinidade” como desculpa para abraçá-la fortemente e beijar seus lábios descontroladamente. Ele não admitiria que tinha imaginado aquele momento algumas vezes antes, mas disse que ela era sua última esperança. A última esperança da humanidade, na verdade.

– Agora vou te proteger 24 horas por dia. Nada vai acontecer contigo, porque tu não merece e eu vou ser o responsável por garantir que o mundo te trate bem. Sinto que estamos perto de uma solução. 

Podemos encontrar um lugar seguro. Tu realmente tem 23?

Ela abriu um imenso sorriso para ele, os olhos brilhando, e balançou a cabeça afirmativamente.

– Então vamos entrar no carro. – sugeriu ele, as mãos pelo corpo dela, sorrindo com o canto da boca.

Unconscious meat eaters (The walking dead - Daryl's fanfic)

Daryl was sitting on a tree stump making an arrow when Nadia appeared in front of him holding a plate with some pieces of cake. He pretended not to notice her, but she sat on the ground near him anyway.

‘I’ve made this snack for us. It’s made of orange’, she said, taking a piece and starting to eat it.

‘Why do you lock horns with taking care of me?’, he asked in a rough way.

She smiled.

‘Because you take care of me.’

‘I take care of everyone. And there are other guys taking care of everyone too.’

‘They’re all married or the like. Take a piece. It’s good!’

‘Not hungry.’

They exchanged a look for the first time ever. He noticed she wasn’t happy as usual, especially after she glimpsed some dead squirrels hanging from his chopper handlebars. ‘What the hell’, he thought, and wished none of that was happening.

‘I heard you don’t eat meat’, he spoke with his teeth closed.

‘You heard it right. I was born like this’, she answered smiling again.

‘Also heard you’re from Brazil.’

‘I am. Came here to learn English. I was going back by the end of this year, when snow starts to fall…’

‘Don’t like snow?’

‘I’m just not used to it. Last winter, my first here, I promised myself I’d follow the migratory birds! Guess my plans will have to change a little bit now… You know? I wanted to travel. Europe, South Africa, India, Australia… I had it all scheduled. All my life I stayed away from men because of that.’

He looked at her as if his eyes were saying “Now I definetely don’t want this virgin mary in my way”.

‘I mean, it’s hard to go around the world if you have someone special waiting for you.’

Daryl still seemed to be very unfriendly. If someone got really determined to enter his world, it would take a lifetime of front and backwards moves. Nadia, however, wasn’t determined at all. She took another piece of cake.

‘Well, there was a dog. There is, I don’t know. Kiwi, because he looked like one. He preferred my neighbor for barbecue reasons! I just couldn’t stand the rejection and went as far as possible!’

Her reward for that little joke, she thought, was a second exchange of look.

‘You had no family?’

‘No one close.’

‘A couple of guys in here have no family either.’

Nadia didn’t want to annoy him. She didn’t want to annoy anybody. She swallowed the last bit of cake in her mouth and said in a very kind tone of voice:

‘I know what you mean. Just let me tell you something: I feel happy to be here talking to you. I wish you felt the same, but if you don’t, just ask me to go. I’ll understand.’

‘Go.’

‘Ok.’

She stood up slowly, slapped the dust off her shorts and took a few steps away from him. Her mind was very active, so she was already thinking about what she could do next to fulfill her day when he called out her name.

‘What?’, she asked turning around. She stood still for some endless Daryl’s seconds until he finally reached out his hand to take the plate and go give it to her from a safe distance.

‘Here. Now don’t come back.’

‘He cares about me a lot’, she thought, but she didn’t smile because it would hurt him.

She disappeared among the trees and he started making arrows again, a lot of them, very quickly. Then he went hunting. His pain was his only company and it returned with him even worse that night.

He had a very good excuse to go to the camp, though: a deer he wouldn’t be able to eat not because it was too much. ‘That goddamned witch!’, he said to himself.

He looked everywhere but couldn’t find her. He sat for a while with the others but couldn’t rest. It was unbearable to see some of them preparing the meat. Maybe he was too tired, maybe he was too weak, but some flashes of that people eating the deer with their bare teeth made him want to shoot everybody then shoot his own head.

‘Have you seen Nadia today? She doesn’t eat it but she could help us to preserve it’, he heard somebody asking and got real mad.

‘Don’t say bullshit! And I haven’t seen her since early this afternoon’, Daryl answered very threateningly. ‘The girl goes missing and you only notice it when you need her?’

‘I saw her with a shovel and some boards a couple of hours ago. She seemed to be making a coffin.’

‘A coffin?! And you didn’t find it strange?!’

‘Well, look around. Everybody is dying…’

‘Just tell me where you saw her!’

‘By the swamp…’

Daryl strangled him just in his mind because he had to hurry to find out what was going on. There was only one possible thing, he presumed: she dug a grave, put a coffin inside it, buried herself and no one could hear the shot because of the dirt. ‘Wait a minute! Are you dumb? How would she put the dirt back in the hole?’

Yet he saw her place of death. The pain almost killed him, but he had enough strength to dig it open and pull out the coffin lid to see her calmly laid down! He wanted to hug her and to punch her and to kiss her and to kill her! Nadia unhurriedly got out of her hideout, while listening to him shouting at her.

‘Are you crazy? What do you think you’re doing? Everybody’s giving their best to survive and you just give up?! What were you trying to do? Suffocate in here?!’

‘Please lower your voice.’

‘Please low…’

‘Listen to me.’

They were both sitting on the dirt, their feet barely touching the coffin bottom, side by side.

‘One: did you forget the things I said yesterday about living instead of surviving when that kid was going to be slaughtered? Two: just imagine! Nothing can come from this side because of the swamp. It’d be very unlikely to reach me from that side because of those cliffs. Also, there are lots of trees all over the place. And if you had paid a little attention to my shelter, you’d have seen an air duct ending on that tree, so that it’s almost impossible to know where I am. Well, at least it’s what I was convinced of. I was testing the thing. But I was quite sure I was safe, you know? I’m just a little upset because I’ll have to do it again. In fact, I’m not upset at all, for it was you…’

‘My turn.’

‘Ok.’

‘Do you wanna know what you are to me? Do you… I don’t care if you do! I don’t care if I don’t wanna talk about it!  I don’t know what the hell you have in your voice that I’m addicted to it. You’re like a cigarette, or a stronger drug! I listen to you, I feel fine for a while. I don’t listen to you for some time, I have to find you. I stay with you for too long, it’s overdose. I think you’re dead, everything else is over.’

‘Daryl…’

‘Don’t say anything! Forget what I just said! I’m hallucinating! Let’s get out of here! Come to the RV with me if you wanna feel safe enough to sleep. I can fix this for you tomorrow.’

He stood up very quickly, grabbing her arm and trying to pull her from that place, but he let her loose too soon, she slipped on the soft soil and fell into the shelter, injuring her knees. He jumped like an arrow into the hideout to help her get into her feet again, but she couldn’t. Then he just lifted her so that she could sit on the soil again – all that without saying a word and in seconds!

‘I think I’ll be able to walk in some minutes…’

‘We can’t wait.’

‘You’re definetely not going to put me on your shoulders. I don’t want to worry anybody. They ask a lot of questions, you know?’

‘Leave it up to me!’

And he carried her out of the woods in his arms.

‘Daryl, maybe I can walk now.’

‘You’re not heavy. Keep eating berries. How old are you?’

‘Twenty-three. Why?’

‘Just wanted to know you were not under eighteen. You look pretty… young.’

They entered the camp and some of the others stood up in aprehension, quickly asking what happened. Daryl had it all set:

‘We just got married!’, he replied as sharply as usual, leaving them in astonishment. Nadia laughed a little and let him accomplish his mission with a comfortable silence.

They got in the RV to find out the only bed had already been taken. Either they would share a mat or…

‘Lie down here. I’ll stay awake and stand guard.’

‘This reminds me of a song…’, she whispered, sitting on the mat.

‘What?’

She signaled him to come closer. He left his crossbow on the table and sat beside her.

‘Te fiz comida, velei teu sono... Fui teu amigo, te levei comigo e me diz: pra mim o que é que ficou?’, she sang in his ears. ‘It’s about someone confused in a complicated world.’

‘Me?’

‘All of us.’

They stared at each other for a long time. Nadia was just singing in his mind, but Daryl was very confused, for he had grown up with “no mamma’s arms to hold him, no daddy’s smiles” at all. ‘Why in the hell do I want her to hold me? To smile at me and sing again? She’s turning me into a pussy! If I just went…”

‘Do you want me to sing you another song? It would make you sleep. You’re so strong, but it’s good to rest now and then. Come on, stretch out your back in here.’

He wanted to resist, he really wanted, but he was so tired, and her voice… It seemed to command his eyes till they closed, and his body until it did exactly as she said. Then Nadia started to sing another song, lying down next to him. He listened to the first verse as if he could understand it, as if he knew there was hope all over it. Then she sang another verse, getting real close to him, her mouth almost touching his neck:

‘Todos os dias antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia... Sempre em frente! Não temos tempo a perder...’

‘What is this one about?’, he mumbled, not wanting to be rude interrupting her, but to try to stay awake forever.

‘Time. There’s a lot of time, but there’s no time to lose.’

‘You can continue if you want to…’

She hugged him and finished the song. A long silence followed until he just held her hand and asked:

‘Teach me how to love.’

‘Of course, Daryl, of course…’

And they just slept like that, sharing warmth and certainty.

But it didn’t last to become reality. When Nadia woke up, he wasn’t there anymore, and he spent the whole day away, trying to forget she existed. He almost did it, if it wasn’t for a herd invading the camp in the middle of the night. The fire brought him back, and the fire allowed him to see survivors escaping in cars, leaving two mortals behind. He went for Nadia and didn’t see the other girl disappearing in the woods. Then they rushed to find their campmates, which didn’t take long.

They found one, two, three of the vehicles and Daryl’s chopper was just like a needle sewing all of them together and leading those desperate souls to a safer place. He was good like that. He even wanted to go try to find some missing people, but each one of the remainder had death stories to tell. Also, when he saw the area wasn’t that secure, he helped everyone get a better car, the last drop of fuel he could find and the few useful things that were left to scavenge. Unfortunately, not enough to make it to somewhere free from danger. Just the middle of a road surrounded by nothing.

When they stopped, hungry, scared, cold, grieving, all those negative feelings turned into a chaotic argument whose main consequence was the disclosure of a very inconvenient truth: everybody was infected.

‘Except Nadia!’, the guy said pointing at her as if she was guilty. The next second, all of them looked at her, then at themselves and at the guy who said that and they all started asking questions to make sure it was real. How many times had they listened to some undeniable info such as “we must love our children”, “we must stay away from guns”, “we must build a sustainable world”? They had never really listened. They were going to hear another one, though. A very painful one. Actually, a new fact for most of them.

‘It’s because she doesn’t eat meat’, Daryl mumbled. ‘Maybe her blood is our hope to find a cure.’

They couldn’t help but stare at her. Everybody thought she was just a useless sixteen-year-old burden who hasn’t really caused any real trouble – yet. Now, hearing that was as if Daryl had hit them with an arrow in their heads, and no one was able to digest such a strong idea. So, everybody just changed subject. They had to organize a new camp and guard shifts. They had to think about what to do in the morning. They had to dream about a different world. A world full of Nadias instead of unconscious meat eaters…

When the first part was settled, Nadia sat right next to Daryl, who felt very uncomfortable, although all of them were also very close to each other, looking for safety. She nestled her head against his chest and shivered with cold, so he instinctively passed his arm around her to try to warm her up a little, feeling even more awkward, but at least he thought he knew why he had been keeping his distance from her.

‘Where are the clothes we found?’, he asked someone.

‘In the first car.’

‘C’mon, let’s find something for you in there’, he said, standing up.

She followed him directly, but overheard one of the women saying ‘I don’t know what the hell is going on between those two’. Her first impulse was to get back and tell them everything, but then she thought it would be rude, and she hadn’t quite decided yet what to do when Daryl told her to hurry.

He opened the trunk then a heavy bag, telling her to choose something fast. She noticed he wasn’t worried about an attack.

‘Daryl, when you said you wanted me to teach you how to…’

‘I was out of my mind! Can’t you see it now?!’

‘Now? Now what? Now that we need each other more than ever? Cos I need…’

‘You need to stay away from me! From every man!’

‘You mean…’

‘I mean you’re not infected and you have to remain like this! Do you think is it just the meat?! I’ve been thinking…’

‘Yeah, I see your point now. I feel I have no other option than to tell you a little story.’

‘Go ahead then.’

‘Look, I’ve lost my mother when I was 11. I used to be a sweet child, but after that I became a brat. You know? A total spoiled little monster.’

‘You? Hard to believe.’

‘Until something happened – at my 13^th birthday party. Something that changed me completely again. I had this cousin… He was a little bit older than me and I hated him – well, I actually hated everybody at that time. He stayed for the night and I think he decided to take revenge from all I had done to him… by raping me.’

‘Wha…?’

‘You know, we’re a very sensual people in Brazil. We start our sexual lives early and free of guilt.’

‘I don’t unders…’

‘Look, although I was open to have sex with some guys, I hated him, remember? And he forced me regardless. I almost couldn’t breathe because he covered my mouth, so I passed away after feeling a lot of pain.’

Daryl’s face hardened and it was impossible for him to keep on looking at her. She touched his arm very fondly,  what just made him try to come off.

‘Put this on before you freeze.’

‘Thanks. I wonder if we can find some pants.’

He helped her in that darkness until they found the same pair of jeans together. Nadia thought she had already given him the time he needed to be ready to listen more and she finished her story before entering the car to change his shorts.

‘I went back being sweet because of that, you know? I spent a lot of time silent, thinking, then I realised I should had seen it coming. I deserved it.’

‘How can you say that?!’

‘We all deserve what we get. I read lots of books, watched tons of movies, listened to some good bands and I decided to change. I don’t know what I did to deserve losing my parents – yeah, my father died last year, but maybe it was the only way to bring me here. Maybe this is where we can work things out instead of being extinct. Anyway, I told you my secret because I don’t want you to think this is like HIV, I mean, I think sex is a natural thing and I didn’t get infected with it. I want you… to be… someone… very close to me, now. But you can take your time and feel free to tell me you don’t want me.’

‘You talk to me as if I was a little girl! I’m not a fucking idiot! I said we got married, didn’t I?! And I can’t infect you! You said you want me, didn’t you?! Do you think I’m a pussy?!’

In spite of all that verbiage, he wasn’t able to do anything but walking back and forth! She expected he would when she pissed him off on purpose, just to see if anger could motivate him since love couldn’t.

‘I think you must get rid of your prejudices’, was her thought while he finally managed to use his “manhood” as an excuse to hold her strongly and kiss her lips wildly. He wouldn’t admit he had imagined that moment some times before, but he told her she was his last hope. Humanity’s last hope, in fact.

‘Now I’m going to protect you 24/7. Nothing is gonna happen to you because you don’t deserve it and I’ll be the one to make sure the world treats you right. I feel like we’re close to a solution. We can find somewhere safe. Are you really 23?’

She grinned at him, her eyes sparkling, and nodded.

'Then let's get in the car', he suggested, all hands on her, smiling with the corner of his mouth.

Justiça?

O universo como nós o conhecemos é, ao mesmo tempo, tão gracioso e tão... PRIMITIVO! É sério: vejam a justiça, por exemplo. Ela é medieval, assim como a igreja. (Impossível evitar o paralelo!) Assim é como eu vejo essas duas instituições nos dias de hoje:

Elas lidam com os "erros" da mesma maneira. A igreja faz os pecadores pagarem uma penitência e pronto: lá vão eles prontinhos pra pecar de novo! E a justiça? Tragam os criminosos! Vamos puni-los! Ao recuperarem a "liberdade", estão louquinhos pra fazer umas maldadezinhas!

Quando é que esse sistema monstruoso todo vai mudar e começar a ajudar as pessoas que erram ao invés de violentá-las e enganá-las? Para que elas sejam realmente "consertadas" e deixem de ser ameaçadoras? Hum... Trabalho voluntário com as crianças?

E essa é a hora em que os críticos de plantão me perguntam: "E se fosse contigo? Se alguém te fizesse mal? Tu não ia querer justiça? Bla, bla bla?" Primeiro: escolhi um caminho que me deixa longe de quem queira me fazer mal. Segundo: tentem entender que todos somos um. Terceiro: usem um pouquinho de QI pra perceber a incoerência dessas instituições pra lá de ultrapassadas, erradas, podres, preconceituosas, viciadas, etc., etc., etc.!

"Diz-se que não há pecado em matar uma besta. Apenas em matar um homem. Mas onde um começa e o outro termina?"

                                                        (Originalmente publicado em junho de 2011.)
Justice?

The universe as we know it is at the same time so gracious and so ... PRIMITIVE! Seriously: look at justice, for example. It is medieval, as well as the church. (Impossible to avoid parallel!) This is how I see these two institutions today:

They deal with "errors " the same way. The church makes the sinners pay a penance and it's done: there they all go ready to sin again! What about justice? Bring the criminals! Let's punish them! As they get their "freedom" back, they are eager to perform some little evil things!

When will this whole monstrous system change and start helping the people who make mistakes rather than raping and deceiving them? So that they are truly "fixed" and stop being a threat? Hmm .. Volunteer work with children?
And this is the time when always-on-the-look critics ask me: "What if it were you? If someone hurt you? Wouldn't you want justice? Bla, bla bla?" First: I chose a path that gets me away from those who want to hurt me. Secondly: try to understand that we are one. Thirdly: use a bit of IQ to realize the incoherence of these institutions indeed very much outdated, wrong, rotten, full of prejudice, biased, etc., etc., etc.!

"It is said there is no sin in killing a Beast. Only in killing a man. But where does one begin, and the other end?"

                                                                      (Originally published in June 2011.)